Lei Rouanet e outros incentivos culturais

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Neste fórum você pode esclarecer dúvidas sobre Produção Executiva, como lançar um trabalho no mercado, procurar novos lugares para se apresentar, colocar o nome na mídia especializada, tocar nos festivais que acontecem por todo o Brasil, etc. e sobre Marketing Cultural, como Lei Rouanet.
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OmidBurgin
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Lei Rouanet e outros incentivos culturais

Mensagem por OmidBurgin »

Caros

Muito alunos reclamam que não vale a pena de fazer o trabalho para receber verbas atraves incentivos culturais, como Lei Rouanet, como na maioria das vezes as decisões estão sendo influenciado por fatores irregulares (panelas fechadas, cartas marcadas, etc.).

É verdade? Se poder, vcs podem dar algumas dicas para os nossos alunos?

Obrigado!

Omid Bürgin.
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Magda Pucci
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Mensagem por Magda Pucci »

Omid,

A Lei Rouanet foi criada para incentivar novas produções, de caráter cultural, menos comercial, e de artistas e grupos que não tinham condições de se auto-produzir com recursos próprios, mas ela se transformou numa ferramenta de marketing para as grandes empresas (principalmente as multinacionais e os bancos). A seleção dos projetos passa pela assessoria de marketing das empresas que dão preferência a projetos que tenham em seu casting, artistas já famosos, principalmente do mundo da TV, assim como celebridades e pessoas que podem ser "bons garotos-propagandas" de suas marcas. Sendo assim, acho que houve uma distorção no que a lei buscava, pois o critério se baseia apenas na visibilidade da marca através de nomes já consagrados na grande mídia, portanto, é um circulo vicioso que raramente consegue dar espaço para artistas com propostas inovadoras, menos “comerciais” , isto é, de âmbito mais cultural, experimental etc).
A lei passou a atender um número muito pequeno de produtores/captadores que tinham lá seus contatos com os departamentos de marketing das empresas patrocinadoras. Havia uma esperança, na chegada do Gilberto Gil no Ministério da Cultura, que a lei sofresse alguns ajustes para resolver essas distorções, mas até agora, nada foi mexido, a não ser a retirada do valor do captador de recursos nos orçamentos (que era de 20%) entre outros detalhes pouco significantes.
O que seria necessário é haver um controle maior dos projetos aprovados para não acontecer abusos como vem ocorrendo com projetos como a vinda do Cirque du Soleil e os musicais da Broadway que, com dinheiro de impostos, cobram ingressos caríssimos para uma elite usufruir. A contrapartida social (ingressos acessíveis, apresentações gratuitas, doações de produtos culturais etc.) tem que ser compatível com o valor do investimento realizado pelas empresas. Esse controle não é feito e não há previsão que aconteça em breve.
Então, os músicos independentes, sem muitos recursos para produzir seus CDs, DVDs, lançamentos e realizarem turnês pelo pais, quando colocam o projeto na Lei Rouanet, acabam ficando sem meios de acessar os patrocinadores, pois precisam entrar “nessa panela dos captadores”, que em geral, se interessam apenas por projetos de valores bem altos. Por serem artistas em início de carreira, e portanto, pouco conhecidos do grande público, acabam não tendo o “valor agregado” de que tanto o marketing precisa. Além do mais, o orçamento quando colocado na Lei, quase triplica de valor, pois com todos os itens obrigatórios que são exigidos acabam por inviabilizar a produção do CD ou DVD. Então, só vale a pena fazer o projeto via Lei Rouanet se o músico já tiver um patrocinador em vista, realmente interessado, ou se ele tem meios de acessar os “marketeiros” através de algum bom captador e adaptar seu projeto ao que a empresa quer, o que nem sempre é fácil.
Magda Pucci
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Tiago Barizon
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Mensagem por Tiago Barizon »

O panorama do mercado cultural é exatamente este descrito pela Magda. Infelizmente as leis da forma como estão escritas privilegiam as grandes produções, os nomes consagrados e as panelas.

Além de tudo, estas leis de incentivo não criam no empresariado brasileiro uma mentalidade voltada para a prática do patrocínio. O que deveria ser encarado como investimento acaba sendo isenção fiscal. Se pararmos para avaliar, o dinheiro que vai para estes projetos não é da empresa patrocinadora, e sim do governo federal (no caso da Lei Rouanet), uma vez que o valor encaminhado para os projetos é uma parcela de seu imposto de renda. Investimento em cultura e patrocínio de verdade acontecem quando parte do budget de uma empresa (normalmente verba que seria investida em marketing) é destinada para concretizar projetos culturais.

Em todo caso, para aqueles que estão buscando seu lugar ao sol, algumas dicas para tentar fugir ou se adaptar ao caminho das pedras:

- Ao fazer seu projeto, pense em seu público e na distribuição geográfica deste. Se seu projeto é uma tour, busque patrocinadores nas regiões por onde vai passar, e não somente no local de onde vai sair;

- Monte o projeto da forma mais completa possível. São raros os casos, mas algumas empresas investem em projetos culturais sem estarem na lei, buscando retorno para a marca. Existem modelos de projetos em diversas fontes na web;

- Se possível, procure ajuda profissional, na elaboração ou na revisão do projeto;

- Fique atento a outras oportunidades fora do âmbito das leis, como editais de prefeituras e governos, ou de instituições culturais;

- Use e abuse das ferramentas de divulgação gratuitas que existem. MySpace, TramaVirtual, Pure Volume, Orkut. Conheça seu público, crie um mailing e mantenha contato com ele. Você ter um público e um histórico de apresentações vai sempre contar pontos;

- Procure oportunidades fora dos grande pólos. O interior de São Paulo, por exemplo, está repleto de municípios com espaços muito bons e carentes por espetáculos de qualidade;

Boa sorte para todos nós que estamos vivendo neste mercado!
Tiago Barizon
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caiotcarvalho
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Re: Lei Rouanet e outros incentivos culturais

Mensagem por caiotcarvalho »

Concordo plenamente com que foi dito acerca do desvirtuamento dos objetivos iniciais da Lei Rouanet. É triste saber que aqueles artistas que mereceriam a atenção do Estado ficam no ostracismo, enquanto outros, já consagrados, são contemplados com incentivos fiscais.

É evidente que isso se dá, em grande parte, por conta dos patrocinadores (mecenas), que preferem artistas famosos a outros desconhecidos, para "vestirem a camisa" de seus projetos culturais. Aliás, essa situação é distorcida justamente porque parte de uma premissa errada. Na verdade, o mais adequado é que os próprios artistas desenvolvam projetos culturais. Mas o que acontece é que as empresas patrocinadoras criam projetos próprios, almejando unicamente divulgar suas marcas, e para que a ação seja um sucesso financeiro, convidam artistas renomados para encabeçarem o espetáculo ou seja lá o que tiver sido elaborado.

Agora, acredito que uma outra questão que o tópico levanta é sobre a possibilidade de o Ministério da Cultura se valer de meios não muito corretos e objetivos para aprovar ou rejeitar projetos culturais apresentados com base na Lei Rouanet. E nesse ponto, acredito que, por mais que se diga que as avaliações feitas pelo MinC não são e nem podem ser subjetivas, certamente há um considerável grau de subjetivismo na análise dos projetos ali protocolados, já que a apresentação de proposta cultural não se trata de mero preenchimento de lacunas, e sim de um trabalho cuidadosamente descritivo e bastante valorativo no que concerne ao atendimento às alegadas necessidades culturais do país. Ademais, vale dizer que, infelizmente, "favorecimentos" acontecem com certa freqüência em órgãos públicos, e não ficaria surpreso se algo do gênero acontecesse por lá também.

Enfim, vale o conselho de seguir por outros meios, como editais e afins. Mas acho que também vale a tentativa no MinC.
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