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A Lei Rouanet foi criada para incentivar novas produções, de caráter cultural, menos comercial, e de artistas e grupos que não tinham condições de se auto-produzir com recursos próprios, mas ela se transformou numa ferramenta de marketing para as grandes empresas (principalmente as multinacionais e os bancos). A seleção dos projetos passa pela assessoria de marketing das empresas que dão preferência a projetos que tenham em seu casting, artistas já famosos, principalmente do mundo da TV, assim como celebridades e pessoas que podem ser "bons garotos-propagandas" de suas marcas. Sendo assim, acho que houve uma distorção no que a lei buscava, pois o critério se baseia apenas na visibilidade da marca através de nomes já consagrados na grande mídia, portanto, é um circulo vicioso que raramente consegue dar espaço para artistas com propostas inovadoras, menos “comerciais” , isto é, de âmbito mais cultural, experimental etc).
A lei passou a atender um número muito pequeno de produtores/captadores que tinham lá seus contatos com os departamentos de marketing das empresas patrocinadoras. Havia uma esperança, na chegada do Gilberto Gil no Ministério da Cultura, que a lei sofresse alguns ajustes para resolver essas distorções, mas até agora, nada foi mexido, a não ser a retirada do valor do captador de recursos nos orçamentos (que era de 20%) entre outros detalhes pouco significantes.
O que seria necessário é haver um controle maior dos projetos aprovados para não acontecer abusos como vem ocorrendo com projetos como a vinda do Cirque du Soleil e os musicais da Broadway que, com dinheiro de impostos, cobram ingressos caríssimos para uma elite usufruir. A contrapartida social (ingressos acessíveis, apresentações gratuitas, doações de produtos culturais etc.) tem que ser compatível com o valor do investimento realizado pelas empresas. Esse controle não é feito e não há previsão que aconteça em breve.
Então, os músicos independentes, sem muitos recursos para produzir seus CDs, DVDs, lançamentos e realizarem turnês pelo pais, quando colocam o projeto na Lei Rouanet, acabam ficando sem meios de acessar os patrocinadores, pois precisam entrar “nessa panela dos captadores”, que em geral, se interessam apenas por projetos de valores bem altos. Por serem artistas em início de carreira, e portanto, pouco conhecidos do grande público, acabam não tendo o “valor agregado” de que tanto o marketing precisa. Além do mais, o orçamento quando colocado na Lei, quase triplica de valor, pois com todos os itens obrigatórios que são exigidos acabam por inviabilizar a produção do CD ou DVD. Então, só vale a pena fazer o projeto via Lei Rouanet se o músico já tiver um patrocinador em vista, realmente interessado, ou se ele tem meios de acessar os “marketeiros” através de algum bom captador e adaptar seu projeto ao que a empresa quer, o que nem sempre é fácil.
_________________ Magda Pucci
http://www.ethosprodutora.com.br
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Palestrante da
OMiD international audio academy
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